sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Queer Lisboa 2008


A Bico de Pena é um dos patrocinadores da 12.ª edição do Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, que se realizará no cinema São Jorge, entre 19 e 27 de Setembro de 2008. O festival contará com uma vasta programação em que se incluem sessões de cinema, com vários filmes em competição, debates e festas. Para saber mais, consulte o site oficial do festival: http://www.lisbonfilmfest.com/

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Novos títulos para breve:

Arquitectura do Arco-íris, de Cíntia Moscovich
Colecção «Pena de Pato»

Arquitectura do Arco-íris reúne dez contos inéditos, que têm como eixo central o cuidado com a linguagem e o apuro técnico. Estas narrativas curtas ponderam, com uma elegância comovente, a ética e o sistema de valores que regem os afectos humanos. Com temáticas variadas, alguns contos desta obra giram em torno da vivência no bairro judeu do Bom Fim, em Porto Alegre – que poderia ser qualquer bairro judeu em qualquer cidade do mundo. Dividido em duas partes, o livro é marcado pela variedade, com diversas situações ligadas aos extremos da vida.

Os Filhos do Albatroz, de Anaïs Nin
Colecção «Pena de Pato»

Djuna é uma mulher de 40 anos, com uma fortuna inimaginável. Bailarina reformada, os seus únicos amigos pertencem ao mundo do ballet, homens que tendem a atraí-la pelas suas pouco maduras qualidades. Então, quando conhece Paul, um rapaz de 17 anos, este causa um grande impacto na sua vida. Paul fugiu do seu pai, e ela, por razões que enterrou no passado, precisa da oposição de uma figura paterna para afinar os seus desejos… Os Filhos de Albatroz é um dos trabalhos mais pungentes de Nin, que captura brilhantemente as nuances e as sensações do amor adolescente.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Imprensa:

Madame Butterfly, John Luther Long
Colecção Pena de Cisne, € 9,00

«Esta é a história de Pinkerton, um soldado americano colocado em Nagasaki que se casa com uma japonesa, por brincadeira, a quem chamava Madame Butterfly. Quando ele regressa aos Estados Unidos ela fica à espera que ele volte... Esta obra começou por ser publicada, em 1898, na Century Magazine. Só depois David Belasco a adaptou ao teatro, modificando-a. A peça tem apenas um acto e o dramaturgo alterou o final, enfatizando os aspectos mais trágicos. O sucesso da peça levou a que mais tarde Giacomo Puccini compusesse a ópera Madame Butterfly.»
Ípsilon, sexta-feira 5 de Setembro 2008
Crítica de imprensa:

«Génio disfuncional


Isenta de melodrama, pontuada de humor corrosivo, uma escrita capaz de nos levar das lágrimas ao riso.

Depois do êxito planetário de Correr Com Tesouras, a sua muito aclamada autobiografia da infância e adolescência, Augusten Burroughs (n. 1965) não perdeu tempo: avançou com A Seco, memórias de um criativo de publicidade dependente do álcool. Os livros são de 2002 e 2003, respectivamente, e o primeiro até deu azo a um divertido filme de Ryan Murphy com Joseph Cross no papel de Augusten Burroughs. A família (a mãe é escritora e poeta, o pai é director do departamento de filosofia da Universidade de Massachusetts Amherst) não gostou do que leu, e a Vanity Fair publicou em 2007 um artigo que pretende demonstrara manipulação de grande parte dos incidentes que Augusten Burroughs assume como biográficos. Polémicas à parte, o aplauso é geral: o primeiro livro Sellevision (2000), está a ser adaptado ao cinema, e as colectâneas de ensaios vendem-se como amendoim. Não esquecer que o autor é colunista das publicações de língua inglesa mais influentes dos dois lados do Atlântico.

À primeira leitura, pode parecer que Augusten Burroughs escreve no registo linear que faz escola desde Menos que Zero (1985), de Bret Easton Ellis. Mas, para todos os efeitos, Augusten não faz parte do Brat Pack, o grupo de autores (Ellis, Jay McInerney, Tama Janowitz, David Leavitt, Donna Tartt, etc.) que nos anos 1980 redefiniu o pós-modernismo americano. A sua escrita tem uma plasticidade capaz de nos levar das lágrimas ao riso. Os seus livros, e este em particular, estão isentos de melodrama, mesmo quando nacos de tragédia sórdida convivem com o humor mais corrosivo.

Tal como em Correr Com Tesouras, Augusten é o narrador e protagonista de A Seco. Começa por explicar como, sem habilitações formais, entrou e fez sucesso na profissão. Aos 13 anos havia sido entregue pela mãe, para adopção, ao seu psiquiatra: "Levei então uma vida de infelicidade e pedofilia, sem ir à escola e com comprimidos de borla. Quando finalmente consegui escapar, apresentei-me às agências de publicidade como um jovem autodidacta, levemente excêntrico [...] Omiti o facto de não saber soletrar uma palavra e de fazer broches desde os treze anos." Trabalho e talento fizeram o resto. Aos 25 anos faz parte dos "happy few" de Manhattan, mas a crescente dependência do álcool põe tudo em risco.

Augusten é gay, mantendo uma relação de enamoramento com um antigo amante: "Pighead e eu conhecemo-nos através de uma linha de telefones eróticos. Eu tinha acabado de me mudar para Manhattan [...] Contei-lhe a minha vida de publicitário, impressionando-o com a minha falta de formação académica para além da escola primária e com o meu sucesso numa idade tão jovem." Pighead é um jovem banqueiro de investimentos, de origem grega, seropositivo, que vive num apartamento faustoso na companhia de Virgil, o seu terrier de estimação. Por seu lado, Augusten, não obstante os 200 mil dólares de salário anual, sobrevive no meio do caos, com a casa atulhada de garrafas vazias, tantas que "enchem vinte e sete sacos gigantes, de tamanho industrial". Deu por isso no dia em que regressou a Nova Iorque após um mês de desintoxicação no Minnesota. Tem dificuldade em acreditar no que vê e perder sete horas a encher os sacos. O pior vem depois: a sua relação com Foster, dependente de crack; a partida de Hayden; a morte de Pighead. Nessa altura descobre que passou "meses a tentar matá-lo com os [seus] pensamentos". Quando Augusten por fim desmorona, os capítulos tornam-se sombrios, fazendo abrandar o ritmo dos diálogos (no geral bastante divertidos). Só o sarcasmo permanece incólume.
[...]»

Eduardo Pitta, Ípsilon, sexta-feira 5 de Setembro 2008

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Imprensa:

A Seco, Augusten Burroughs
Revista LER, Setembro 2008

«O norte-americano Augusten Burroughs (n. 1965) é um habituée da lista de best-sellers do The New York Times. Foi assim com Correr Com Tesouras (também editado pela Bico de Pena), história tragicómica da sua invulgar infância e adolescência, e é assim com A Seco: um dia, o copywriter de uma agência de Nova Iorque descobre que tem em casa mais de mil garrafas vazias de cerveja e outras centenas de whisky. E não se lembra como foram lá parar.»



Geração Queimada da América, Zadie Smith
Revista LER, Setembro 2008

«Na origem desta antologia esteve um ousado escritor italiano que reuniu 19 jovens autores norte-americanos, encomendando a Zadie Smith um prefácio. O resultado não podia ser mais surpreendente, pois estas histórias contemporâneas dão-nos um retrato muito pouco consensual do que é a América dos dias imediatamente anteriores aos atentados de 11 de Setembro. O que mais espantou a escritora foi a melancolia e a tristeza subjacente a todas as histórias, em que a possibilidade da morte, da doença ou de um infortúnio iminente, fazem as vezes do optimismo artificial que comanda as relações humanas na pátria das oportunidades a qualquer preço. Não parecia ser o caso então, como mais tarde se veio a verificar, quando as ondas de choque da queda das Torres Gémeas se disseminaram pelo tecido psicossocial americano. Muitas destas histórias vão ao cerne dos mitos da vida americana, desde a publicidade à vida comunitária, laboral e pessoal. O mal-estar, um mal de vivre profundo, pontua muitas destas páginas, ferozes as mais das vezes e pouco inclinadas à autocomplacência, num desejo de catarse, às vezes bastante surreal, e exorcismo da falsidade inerente a um modo de vida vazio e sem horizonte redentor. O tempo dirá se nasceu uma nova geração, mas este livro, na sua variedade de caminhos, é um indício muito interessante, e uma leitura que se recomenda.»

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Críticas de imprensa:

A Última Noite que Passei Contigo
Os Meus Livros
, Setembro 2008

«Célia e Fernando estão casados há vários anos. A sua ligação já não possui o fogo de outrora, mas um cruzeiro pelas Caraíbas pode ser a solução para injectar um novo fôlego na sua paixão adormecida. Ângela e Abel formam uma outra dupla, cuja história vamos conhecendo ao longo das páginas deste livro, enquanto vamos mergulhando num clima de extrema sensualidade e erotismo.»




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Califórnia
Sara Figueiredo Costa, Os Meus Livros, Setembro 2008

«Tomar partido

Numa Califórnia animada pela festa contínua, o madrileno Charly vive sem outras preocupações que não a satisfação dos seus desejos, e nem sequer o governo de Franco na sua terra natal, parece interessar-lhe. Três décadas mais tarde, em Madrid, Charly é agora Carlos, executivo de uma empresa, vivendo com o seu namorado Álex em discreta rotina. E quando César Peralba, um trabalhador da empresa, decide reclamar o direito de acompanhar Ignacio, doente de Alzheimer, com quem vive, Carlos ver-seá confrontado com a necessidade de assumir uma posição, enfrentando todos os fantasmas que, do passado, parecem cobrar-lhe a atitude que nunca tomou.
No seu mais recente romance, Mendicutti explora o conflito entre o indivíduo e a sua existência política, ilustrando a tese de que qualquer pessoa pode mudar.»
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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

«Fio Solto

Parece que estamos num filme de Larry Clark - o realizador de Kids (1995) e Ken Park (2002), dois filmes provocadores sobre famílias disfuncionais e adolescentes à procura da identidade sexual, sempre muito drogados e rebeldes. A personagem principal deste Fio Solto (My Loose Thread, no original), romance de Dennis Cooper agora publicado em português, chama-se precisamente Larry. E Larry mantém uma relação incestuosa com o irmão, Jim. A relação foi descoberta por Rand. Larry matou Rand e agora é pago por um amigo de liceu para matar outro colega. O sexo entre iguais é frequente, a confusão na cabeça destes adolescentes e a violência entre eles também. E, tal como nos filmes de Larry Clark, a família é o último sítio onde podem encontrar alguém sério.
A linguagem é a mesma que Dennis Cooper costuma usar nos seus livros. Tão explícita e gratuita quanto isto: "Tiro a minha Pepsi e seguro-a no meio das pernas. Mas está gelada e demasiado perto dos meus colhões, por isso tenho de ajeitá-la"; "A mãe costumava vendê-lo a paneleiros e eles batiam-lhe e faziam paneleirices sádicas com ele"; "Quero bater-lhe com tanta força, que ele vai morrer. Não aguento querer que ele me ame daquela maneira e quero que ele se mate de vez".
Cooper, 55 anos, nasceu na Califórnia e tem vivido em Amesterdão e Paris. Começou a escrever em 1976. Além de ficção, assina poesia e ensaio (incluindo sobre Nan Goldin, fotógrafa de personagens marginais).
No passado, a editora de Fio Solto, a Bico de Pena, já tinha publicado purosexo.com (The Sluts), a primeira tradução portuguesa de um livro de Cooper. A Bico de Pena faz parte do gigantesco grupo de comunicação Bertelsmann e é a única editora em Portugal que se dedica sistematicamente à edição de livros de temática gay.» Bruno Horta

Revista TimeOut, 6 de Agosto de 2008

terça-feira, 8 de julho de 2008

Crítica de imprensa:

Vida sem room service

Em vários registos estilísticos controlados com mão de mestre, Ali Smith conta-nos da dor, da tristeza e da esperança, num romance nostálgico a cinco vozes. Hotel Mundo confirma o talento literário desta original escritora britânica.

«Aaaa-aaaah que queda que voo que descida que corrida para as trevas para a luz que mergulho que deslize baque choque que tombo que […].» Assim começa o romance Hotel Mundo, de Ali Smith (Inverness, 1962). É o fantasma de Sara Wilby, uma empregada de hotel de 19 anos de idade, recentemente falecida num estranho acidente, que assim nos narra o angustiante momento da sua morte. Sara, na sua segunda noite de trabalho no Hotel Global, numa brincadeira aparentemente inocente, apostou cinco libras em como se conseguiria introduzir num elevador para pratos. O cabo de suspensão partiu-se, e Sara, já dentro da caixa metálica, caiu quatro andares até à cave, pelo fosso do monta-pratos. Este é o capítulo mais nostálgico de todo o livro e, provavelmente, o mais conseguido (rivalizando com o último). O fantasma, prestes a despedir-se deste mundo (esta é a sua última noite), começa a ter saudades de tudo, até da dor: «Sentir uma pedra a chocalhar dentro do sapato enquanto ando, uma pedra pequena e pontiaguda, que se espete em diferentes partes da planta do meu pé e me provoque uma dor agradável.»
O romance está dividido em seis partes, cujos títulos nos remetem para diferentes tempos narrativos: «Passado», «Presente Histórico». «Condicional Futuro», «Perfeito», «Futuro no Passado» e Presente». Cada uma delas, à excepção da última, dá voz a uma das cinco personagens, todas femininas: o já referido fantasma de Sara, Else (uma pedinte sem abrigo, presumivelmente tubercolosa, que se senta no exterior do Hotel Global), Lise (a empregada da recepção, que sofre de uma estranha doença e que oferece um quarto a Else), Penny (a jornalista antipática), e a irmã de Sara, a morta. O hotel funciona no romance não apenas como cenário e «motivo», mas como o lugar aglutinador de que dependem as várias vidas narradas; são todas, de alguma maneira (e aqui o bizarro acidente do elevador é o «estribilho»), vidas em «queda», gente prestes a fazer o check out (nem o fantasma consegue escapar).
O que fascina em Hotel Mundo – para além da peculiaridade das histórias contadas e da sua extraordinária carga de afectos muito «à flor da pele» –, é a desenvoltura narrativa e a segurança de Ali Smith. Em registos estilísticos diferentes (por vezes a fazer lembrar Beckett), consegue controlar o ritmo da história sem nunca «perder a mão», sem se deixar levar em tentadores e fáceis «efeitos pirotécnicos». Ali Smith é, sem dúvida, uma das mais talentosas e originais escritoras britânicas. José Riço Direitinho

Revista Ler, Julho de 2008

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Imprensa:

«A Farmacêutica
Esparbec

Num registo que desafia a designação de pornografia, Esparbec (ou, melhor, o escritor que se esconde neste pseudónimo) conta-nos a história de Laura, da sua filha Bertrande e das relações promíscuas que têm lugar à sua volta. Do primo ao padrasto, poucos escaparão à fúria libidinosa da jovem, sob o "olhar" cúmplice da mãe. Uma narrativa desbragada, onde os limites da imoralidade são postos em causa e o desejo norteia o evoluir da narrativa.»

Os Meus Livros, Abril 2008
Imprensa:

«América XXI

Interessante antologia de contos esta, que dá a conhecer alguns dos principais escritores americanos da actualidade, que aos poucos começam a afirmar-se. É uma geração «pós-pós-moderna, pós-geração X, pré-11 de Setembro», como diz Zadie Smith no prefácio, «longe da América de Saul Bellow, onde tudo era possível, da raiva masculina de Philip Roth, do lirismo de Tony Morrison». Na impossibilidade de seguir os passos percorridos pelos seus antecessores, este autores são marcados por «uma melancolia e um talento inexplicáveis». Dave Eggers, David Foster Wallece, George Saunders, Jeffrey Eugenides, Jonathan Safran Foer e Rick Moody são alguns dos escritores representados.»

Jornal de Letras, 26 de Março
Crítica:

«Uma geração em fuga

Com as atenções centradas na eleição do 44.º presidente dos EUA, Gonçalo Paixão mergulhou num livro de uma geração de viragem marcada pelo 11 de Setembro

Diz a capa que este volume foi organizado pela premiada escritora inglesa Zadie Smith (autora de Da Beleza). Na realidade, e para quem ler o preâmbulo, não é bem assim. Conta ela que numa noite de bebedeira em Itália conheceu dois jovens editores que não só a fizeram assinar um contrato para a edição do seu próximo livro num guardanapo de taberna, mas também que lhe enviariam mais tarde esta compilação para ser editada em Itália. Como ela diz: "Foi um parto fruto do amor, mas quem sofreu as contracções foi outra pessoa."
Há em Geração Queimada da América a consciência de um mal-estar social. De uma instrospecção profunda sobre o amor, a vida, a morte, a efemeridade, a ingenuidade e a capacidade inata de nos observarmos. Da história doce de Matthew Klam que mostra como o amor é questionável e nessas questões crescemos e nos conhecemos, à profunda crítica social à América dos malls e da comida rápida de Jonathan Letham. É um livro mágico, contos saídos de uma geração que viveu a viragem de fortuna e felicidade da Era Clinton para a descoberta da pobreza do período Bush. São histórias que se bebem entre paragens do metro e onde realidade e ficção, futurismo e consciência social se fundem num só volume de várias histórias, como uma janela sobre uma geração cuja impertinência nos deixa felizes por haver um tempo de pausa entre cada uma, permitindo cheirar uma realidade na qual nos revemos mas que sentimos não ser nossa. É uma geração que publica as primeiras obras no virar do século e tem nas mãos uma América deprimida, descontente consigo mesma e à procura de um rumo, em que o medo da morte, da velhice, da busca da eternidade parece importar mais que tudo. O volume conta com 19 dos mais brilhantes autores americanos.
Alguns exemplos: O volume abre com uma ficção científica hilariante sobre a decadência da América e a ideia de paternidade. Segue-se uma história de amor e das dificuldades de um jovem casal em sobreviver perante um conjunto de comezinhas realidades que corroem. Está recheado dos episódios mágico-trágicos em que a realidade é moldada.
Os Primeiros Homens, de Zadie Smith, é sobre a decadência da classe média americana, da juventude e da subversão dos papéis entre adultos e crianças. O protagonista fala de um herói com os dedos em forma de chave que abre portas. Centros Comerciais Invisíveis é uma comédia baseada nos enormes centros comerciais que povoam a América do Norte. Arthur Bradford relata a amizade numa família calma onde um evento inesperado muda tudo. Fantasia de Acesso é sob o peso de um mundo em mudança, numa metáfora perfeita e com um twist final surpreendente. Sam Lipsyte, com O Braço Mau, remete para a curiosidade e imaginação infantil a partir de uma mãe a morrer. Circulação é uma curiosidade sobre o funcionamento do mundo. Manual para Pontuar Doenças de Coração fala da genética, da genealogia, do amor e dos códigos de silêncio e sussurro que nos fazem comunicar sem falar.
Este conjunto de ficções devora-se e é indispensável para compreender uma geração cansada e desiludida, com demasiado medo da morte e demasiadas culpas por ser rica, branca e de um país rico. Mas também indispensável por ser luminoso, inspirado e infinitamente rico numa cultura que julgamos conhecer.»

Time Out Lisboa, 26 de Março
Crítica:
Geração Queimada da América
Org. Zadie Smith

«Almas Queimadas

Muitos destes contos assentam numa disfunção relacional, mas nunca expressa de forma explícita - seja num ambiente familiar, seja no que respeita a relacionamentos amorosos. Grande parte das histórias aqui reunidas assentam numa linguagem repleta de metáforas. Encontramos uma paixão obsessiva pela Barbie (essa mesma, a boneca da Mattel) que redunda em estranhas cenas de sexo; uma carta de resposta a um cliente descontente, de uma empresa que comercializa um bizarro aparelho que "simula" respostas de um bebé com carácter adulto; um rapaz cujos dedos abrem nove portas, (quais? só saberá ao longo da vida); um conjunto de cartas escritas a directores de empresas na pessoa de um cão; uma transposição do imaginário linguístico de "As Cidades Invisíveis" para centros comerciais; uma mulher a quem nascem dentes em todo o corpo.
Trata-se de uma compilação de 19 contos, de outros tantos autores que representam a nova escrita americana. Há quem evidencie formas mais experimentais ("Teste de Interpretação", de Myla Golberg, sob a forma de questionário de resposta múltipla ou "Manual para Pontuar as Doenças do Coração", de Jonathan Safran Foer). Mas há quem escreva de forma intimista, com uma forte carga psicológica ("Devia Haver Um Nome para Isso", de Matthew Klam ou "Timesharing", de Jeffrey Eugenides). Apesar do mediático nome de Zadie Smith na capa a responsabilidade pela antologia é essencialmente dos editores italianos Marco Cassini e Martina Testa, como percebemos na nota de introdução. Apesar da oscilação da qualidade dos escritos (nada que não seja natural numa antologia, ainda por cima de autores com pouca coisa publicada) este é um livro que vale a pena ler - mais do que uma geração o que une estes textos é um sentimento de melancolia, uma tristeza que não necessita de justificação racional para existir. E, apesar de tudo, a vida move-se.»

Os Meus Livros, Março 2008

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Imprensa:

«E se numa noite de Verão um escritor

E se numa noite de Verão um escritor (um escritor que conhece Shakespeare, obviamente, como toda a gente) acordasse sobressaltado e fosse dar uma volta pelo bairro tranquilo de classe média onde vive e descobrisse "um solitário casal nu" representando, sem saber, um sonho de amor de shakespereano no centro de um estádio deserto? No caso de "O Banquete do Amor", Charles Baxter, o próprio, encontra depois um vizinho, que acaba de separar-se da segunda mulher, sentado com o cão num parque infantil (ambos, homem e cão, se chamam Bradley), a meditar nos mistérios do amor: "Realmente não tem nada a ver com o que eu imaginava, quando andava no liceu e me punha a pensar como é que o amor seria". É este vizinho que sugere a Baxter, o Baxter personagem secundária e primeiro narrador da história, que escreva um livro intitulado "O Banquete do Amor". E dá-lhe o programa: "Deixa toda a gente a falar! Vou mandar-te pessoas, pessoas verdadeiras para variar, seres humanos que existem realmente, e tu vais ouvir o que eles têm a dizer durante um bocado. Toda a gente tem uma história para contar e nós vamos começar a contar-te as histórias que temos".
Exposto o assunto desta maneira, tratar-se-á de ouvir contar a autobiografia sentimental (e sexual, evidentemente) de pessoas "verdadeiras" –, põe-se o dispositivo em marcha no capítulo seguinte. Como no "Decameron", de Boccaccio, ou nos "Contos da Cantuária", de Chaucer, sucessivos narradores tomam então a palavra: Bradley (o homem, não o cão); a primeira mulher dele, que o deixou quando se apaixonou por outra mulher; uma jovem chamada Chloé, empregada do restaurante de Bradley (pintor nas horas desiludidas: "Banquete do Amor" é também o título de um quadro dele), que diz que o sexo com o namorado era "tão bom […] que achámos que devia haver maneira de ganharmos dinheiro com isso" (e hão-de ganhar); um casal de intelectuais judeus de esquerda (vizinhos de Bradley), ele sendo um professor universitário de filosofia que quer escrever um livro "sobre Kierkegaard e o seu admirador Wittgenstein" (digamos que este professor, com as suas insistentes referências ao filósofo dinamarquês, é o amparo erudito e "sério" do tema do romance); a segunda mulher de Bradley…
O assunto nuclear do romance – o famoso amor –, o facto de todos os narradores estarem relacionados com Bradley e a montagem das suas narrações, que faz com que a voz de cada um deles regresse uma e outra vez interpolada nas outras, fazem a "unidade" do livro. A montagem tem outra consequência: apesar de as histórias serem "paralelas", o romance progride temporalmente. A difícil comunicação entre pais e filhos (outra modalidade do amor) é um subtema do livro.
A certa altura, Lisboa aparece na história. Como cidade "imaginada" pela insónia do estudioso de Kierkegaard, que deve ter andado também a ler Bernardo Soares. Vem descrita como "cosmopolita, mas letárgica" e "uma cidade em elegante declínio". O professor, que não lê português, senta-se numa esplanada "próximo do porto" a ler um jornal imaginário "em português imaginário". É um dos melhores momentos do livro "O jornal que imagino aborda assuntos triviais numa prosa ligeira e tão bonita que raia o cómico. É o paraíso, ler um jornal que só contém assuntos inconsequentes, escrito por prosistas pretensiosos. Um ladrão rouba uma carteira a uma mulher numa loja de cabedais, tudo isso relatado num estilo que teria feito jus a Gibbon […]. Noutra secção do jornal, um gato é dado como desaparecido, mas a história foi escrita por G.W.F. Hegel e mal se dá pelo gato. […] Noutra página, Proust narra um jogo de futebol, Heine põe um apartamento à venda, Colette descreve uma discussão entre dois vizinhos. Virginia Woolf é responsável pelas páginas de economia […]".
Baxter é bom escritor e "O Banquete do Amor", não se comprometendo excessivamente, nem com a leveza levemente lírica e um pouco sentimental que lhe está na alma, nem com os acenos cúmplices à ironia meditativa da razão, lê-se bem. Fica-se até com pena de o romance não ser melhor. Mas não há dúvida: o amor na sua dimensão de entretenimento espiritual, pelo menos, está no ar do tempo.
Charles Baxter nasceu em 1947 em Minneapolis, nos Estados Unidos da América. Estudou inglês, ensinou escrita criativa, é professor na Universidade do Minnesota. Publicou contos, poesia, ensaios e romances. "O Banquete do Amor" é o seu terceiro romance. Foi finalista do "National Book Award" norte-americano e originou um filme, realizado por Robert Benton, que estreia esta semana.»


Mário Santos, Ípsilon, Público, sexta-feira, 25 de Janeiro

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Destaque:

O Messias dos Judeus
Arnon Grunberg

A magnífica obra de Arnon Grunberg, O Messias dos Judeus, tem sido bem recebida por todo o mundo, apesar de a narrativa se centrar num tema polémico. A Penguin Press acaba agora de publicar a tradução em inglês nos EUA e os críticos são unânimes em considerar o premiadíssimo escritor um provocateur. O Los Angeles Times descreve-o como «um mestre na arte do comentário social cortante e da construção de diálogos inteligentes». Na edição de Fevereiro da Vanity Fair, a obra é considerada uma brilhante «farsa de proporções nucleares».

Em Itália, a obra The Asylum Seeker foi considerada o melhor livro de 2007 pela La Gazzetta dello Sport.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

O Banquete do Amor
O Filme estreia a 24 de Janeiro!

Há muito esperada, a estreia em portugal da adaptação ao cinema do livro de Charles Baxter (editado em 2007, pela Bico de Pena) vai finalmente acontecer a 24 de Janeiro. Não perca «uma história para todos os que gostam de amar»!

Todas estas histórias se entrelaçam numa épica história de amor em que ninguém consegue evitar a tensão, a confusão, o prazer e fundamentalmente a compensação do feitiço inevitável do amor.





Sinopse:

Ao despertar de um pesadelo, Charlie Baxter decide ir dar um passeio ao luar. Encontra o seu vizinho, Bradley, a passear o seu cão (que também se chama Bradley). Bradley (o homem) sugere a Charlie que escreva uma história acerca dos amores e desamores reais de pessoas reais. Oferece-se até para ser a personagem principal deste romance sobre o Romance. Através de Bradley, Charlie conhece as histórias de várias personagens: ex-mulheres, ex-amantes, futuros amores, familiares, casais em bodas de prata e jovens perdidos de amor. Como que por magia, as suas histórias começam a tocar-se e a percorrer o mesmo caminho narrativo. Numa evocação de Sonho de Uma Noite de Verão, esta história deliciosa reflecte as manifestações de amores extraordinários entre pessoas comuns. O Banquete do Amor foi finalista do National Book Award e está publicado em sete idiomas.

Ver a ficha do livro