quinta-feira, 12 de junho de 2008

Imprensa:

«A Farmacêutica
Esparbec

Num registo que desafia a designação de pornografia, Esparbec (ou, melhor, o escritor que se esconde neste pseudónimo) conta-nos a história de Laura, da sua filha Bertrande e das relações promíscuas que têm lugar à sua volta. Do primo ao padrasto, poucos escaparão à fúria libidinosa da jovem, sob o "olhar" cúmplice da mãe. Uma narrativa desbragada, onde os limites da imoralidade são postos em causa e o desejo norteia o evoluir da narrativa.»

Os Meus Livros, Abril 2008
Imprensa:

«América XXI

Interessante antologia de contos esta, que dá a conhecer alguns dos principais escritores americanos da actualidade, que aos poucos começam a afirmar-se. É uma geração «pós-pós-moderna, pós-geração X, pré-11 de Setembro», como diz Zadie Smith no prefácio, «longe da América de Saul Bellow, onde tudo era possível, da raiva masculina de Philip Roth, do lirismo de Tony Morrison». Na impossibilidade de seguir os passos percorridos pelos seus antecessores, este autores são marcados por «uma melancolia e um talento inexplicáveis». Dave Eggers, David Foster Wallece, George Saunders, Jeffrey Eugenides, Jonathan Safran Foer e Rick Moody são alguns dos escritores representados.»

Jornal de Letras, 26 de Março
Crítica:

«Uma geração em fuga

Com as atenções centradas na eleição do 44.º presidente dos EUA, Gonçalo Paixão mergulhou num livro de uma geração de viragem marcada pelo 11 de Setembro

Diz a capa que este volume foi organizado pela premiada escritora inglesa Zadie Smith (autora de Da Beleza). Na realidade, e para quem ler o preâmbulo, não é bem assim. Conta ela que numa noite de bebedeira em Itália conheceu dois jovens editores que não só a fizeram assinar um contrato para a edição do seu próximo livro num guardanapo de taberna, mas também que lhe enviariam mais tarde esta compilação para ser editada em Itália. Como ela diz: "Foi um parto fruto do amor, mas quem sofreu as contracções foi outra pessoa."
Há em Geração Queimada da América a consciência de um mal-estar social. De uma instrospecção profunda sobre o amor, a vida, a morte, a efemeridade, a ingenuidade e a capacidade inata de nos observarmos. Da história doce de Matthew Klam que mostra como o amor é questionável e nessas questões crescemos e nos conhecemos, à profunda crítica social à América dos malls e da comida rápida de Jonathan Letham. É um livro mágico, contos saídos de uma geração que viveu a viragem de fortuna e felicidade da Era Clinton para a descoberta da pobreza do período Bush. São histórias que se bebem entre paragens do metro e onde realidade e ficção, futurismo e consciência social se fundem num só volume de várias histórias, como uma janela sobre uma geração cuja impertinência nos deixa felizes por haver um tempo de pausa entre cada uma, permitindo cheirar uma realidade na qual nos revemos mas que sentimos não ser nossa. É uma geração que publica as primeiras obras no virar do século e tem nas mãos uma América deprimida, descontente consigo mesma e à procura de um rumo, em que o medo da morte, da velhice, da busca da eternidade parece importar mais que tudo. O volume conta com 19 dos mais brilhantes autores americanos.
Alguns exemplos: O volume abre com uma ficção científica hilariante sobre a decadência da América e a ideia de paternidade. Segue-se uma história de amor e das dificuldades de um jovem casal em sobreviver perante um conjunto de comezinhas realidades que corroem. Está recheado dos episódios mágico-trágicos em que a realidade é moldada.
Os Primeiros Homens, de Zadie Smith, é sobre a decadência da classe média americana, da juventude e da subversão dos papéis entre adultos e crianças. O protagonista fala de um herói com os dedos em forma de chave que abre portas. Centros Comerciais Invisíveis é uma comédia baseada nos enormes centros comerciais que povoam a América do Norte. Arthur Bradford relata a amizade numa família calma onde um evento inesperado muda tudo. Fantasia de Acesso é sob o peso de um mundo em mudança, numa metáfora perfeita e com um twist final surpreendente. Sam Lipsyte, com O Braço Mau, remete para a curiosidade e imaginação infantil a partir de uma mãe a morrer. Circulação é uma curiosidade sobre o funcionamento do mundo. Manual para Pontuar Doenças de Coração fala da genética, da genealogia, do amor e dos códigos de silêncio e sussurro que nos fazem comunicar sem falar.
Este conjunto de ficções devora-se e é indispensável para compreender uma geração cansada e desiludida, com demasiado medo da morte e demasiadas culpas por ser rica, branca e de um país rico. Mas também indispensável por ser luminoso, inspirado e infinitamente rico numa cultura que julgamos conhecer.»

Time Out Lisboa, 26 de Março
Crítica:
Geração Queimada da América
Org. Zadie Smith

«Almas Queimadas

Muitos destes contos assentam numa disfunção relacional, mas nunca expressa de forma explícita - seja num ambiente familiar, seja no que respeita a relacionamentos amorosos. Grande parte das histórias aqui reunidas assentam numa linguagem repleta de metáforas. Encontramos uma paixão obsessiva pela Barbie (essa mesma, a boneca da Mattel) que redunda em estranhas cenas de sexo; uma carta de resposta a um cliente descontente, de uma empresa que comercializa um bizarro aparelho que "simula" respostas de um bebé com carácter adulto; um rapaz cujos dedos abrem nove portas, (quais? só saberá ao longo da vida); um conjunto de cartas escritas a directores de empresas na pessoa de um cão; uma transposição do imaginário linguístico de "As Cidades Invisíveis" para centros comerciais; uma mulher a quem nascem dentes em todo o corpo.
Trata-se de uma compilação de 19 contos, de outros tantos autores que representam a nova escrita americana. Há quem evidencie formas mais experimentais ("Teste de Interpretação", de Myla Golberg, sob a forma de questionário de resposta múltipla ou "Manual para Pontuar as Doenças do Coração", de Jonathan Safran Foer). Mas há quem escreva de forma intimista, com uma forte carga psicológica ("Devia Haver Um Nome para Isso", de Matthew Klam ou "Timesharing", de Jeffrey Eugenides). Apesar do mediático nome de Zadie Smith na capa a responsabilidade pela antologia é essencialmente dos editores italianos Marco Cassini e Martina Testa, como percebemos na nota de introdução. Apesar da oscilação da qualidade dos escritos (nada que não seja natural numa antologia, ainda por cima de autores com pouca coisa publicada) este é um livro que vale a pena ler - mais do que uma geração o que une estes textos é um sentimento de melancolia, uma tristeza que não necessita de justificação racional para existir. E, apesar de tudo, a vida move-se.»

Os Meus Livros, Março 2008