quinta-feira, 26 de julho de 2007

Imprensa:
«Dez novos contos entre velhas montanhas

Contos. Histórias de solidão e de luta pela mesma autora de "Brokeback Mountain"

O conto de Annie Proulx que o realizador Ang Lee recentemente levou ao cinema em O Segredo de Brokeback Mountain revelava, além de uma dramática história de amor, um contexto de frio, desconforto e silêncio próprio de algumas vidas solitárias lançadas para a montanha. Terreno Vedado - Histórias do Wyoming é um conjunto de contos-irmãos desse outro que, entretanto, a Bico de Pena já publicou em livro.
De comum entre estas histórias corre um transpirar de vidas difíceis, a proximidade de um solo rude, marcos de tragédia, que a escrita de Annie Proulx, em tempos jornalista, transforma em assombrosas narrativas.
Estes contos são fruto de um encantamento da autora pelo Estado para onde se mudou em 1994. A epígrafe "a realidade nunca lhes serviu para grande coisa, por estas bandas", atribuída a um velho cowboy do Wyoming sugere que, por estas palavras, o fantástico e o improvável correm de mãos dadas com cenários crus, de rocha à mostra, e pelas gentes que as pisam. Todavia, esse "real" não deixa de morar nunca em cada história que se conta, habitando como paisagem inevitável em relatos de vidas comuns.
O rápido curriculum vitae de Leeland Lee, nascido em 1947, que tropeça de mau em pior negócio, falência aqui, despedimento ali. A odisseia dos nove filhos de Isaac Dunmire, que "recebiam cordas no Natal, um aperto de mão em cada aniversário e que se lixasse o bolo". Ou um genial golpe chico-esperto de vaqueiros no frio Inverno de 1886... Em todas estas histórias (dez ao todo aqui reunidas), a natureza é força maior que verga o homem. Entre relatos projectados no século XIX, outros contados na idade dos telemóveis e dos computadores, o mesmo Wyoming é a paisagem que, antes de tudo mais, molda as vidas de ficção que Annie Proulx ali coloca. Um Oeste que mesmo quando novo ainda ostenta marcas de outros tempos, destapando casos de isolamento, de perigos inesperados, tramas e vinganças, palco para personagens com vidas tão impiedosas quando a paisagem que as serve.»
Nuno Galopim, Diário de Notícias, Sábado, 14 de Julho de 2007

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