quinta-feira, 12 de junho de 2008

Crítica:
Geração Queimada da América
Org. Zadie Smith

«Almas Queimadas

Muitos destes contos assentam numa disfunção relacional, mas nunca expressa de forma explícita - seja num ambiente familiar, seja no que respeita a relacionamentos amorosos. Grande parte das histórias aqui reunidas assentam numa linguagem repleta de metáforas. Encontramos uma paixão obsessiva pela Barbie (essa mesma, a boneca da Mattel) que redunda em estranhas cenas de sexo; uma carta de resposta a um cliente descontente, de uma empresa que comercializa um bizarro aparelho que "simula" respostas de um bebé com carácter adulto; um rapaz cujos dedos abrem nove portas, (quais? só saberá ao longo da vida); um conjunto de cartas escritas a directores de empresas na pessoa de um cão; uma transposição do imaginário linguístico de "As Cidades Invisíveis" para centros comerciais; uma mulher a quem nascem dentes em todo o corpo.
Trata-se de uma compilação de 19 contos, de outros tantos autores que representam a nova escrita americana. Há quem evidencie formas mais experimentais ("Teste de Interpretação", de Myla Golberg, sob a forma de questionário de resposta múltipla ou "Manual para Pontuar as Doenças do Coração", de Jonathan Safran Foer). Mas há quem escreva de forma intimista, com uma forte carga psicológica ("Devia Haver Um Nome para Isso", de Matthew Klam ou "Timesharing", de Jeffrey Eugenides). Apesar do mediático nome de Zadie Smith na capa a responsabilidade pela antologia é essencialmente dos editores italianos Marco Cassini e Martina Testa, como percebemos na nota de introdução. Apesar da oscilação da qualidade dos escritos (nada que não seja natural numa antologia, ainda por cima de autores com pouca coisa publicada) este é um livro que vale a pena ler - mais do que uma geração o que une estes textos é um sentimento de melancolia, uma tristeza que não necessita de justificação racional para existir. E, apesar de tudo, a vida move-se.»

Os Meus Livros, Março 2008

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