segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Crítica de imprensa:

Não Tenho Culpa de Ter Nascido Tão Sexy, Eduardo Mendicutti

«A estrada celestial

Rebecca de Windsor nasceu com corpo de homem, mas há muito que resolveu o problema, encontrando a forma física correcta para a sua identidade. Agora, é uma mulher que se sente envelhecer e, para o fazer da melhor maneira, decide que será santa. Este é o ponto de partida para um verdadeiro "road novel" que parodia a prosa mística do Século de Ouro Espanhol enquanto reflecte sobre a identidade e a memória, o modo como nos definem e as possibilidades que temos de moldá-las.
O caminho de Rebecca em direcção à santidade, procurando seguir os passos de Santa Teresa de Ávila, levá-la-á a enfrentar recordações dolorosas e a perceber que a recusa do que se é não permitirá nenhuma honestidade perante o que se quer ser; do mesmo modo que nunca poderia ser um rapaz, porque era uma rapariga que se sentia, nenhuma santidade a poderia tocar se para isso tivesse de recusar impulsos tão essenciais à humanidade como a protecção do próprio corpo e o respeito pelas suas necessidades. As sete moradas de Santa Teresa transformam-se, assim, em sete etapas de reconciliação e o discurso místico reveste-se de uma coloquialidade construída fielmente em relação à sua origem e aos seus objectivos. O humor pode ser uma arma contra a sisudez; aqui, é igualmente um instrumento para a reflexão mais profunda sobre o que é ser-se humano.»

Sara Figueiredo Costa, revista Os Meus Livros, Novembro de 2007

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